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Estamos convivendo em um momento peculiar no segmento da saúde, segundo dados da ANS. Vivemos um crescimento histórico desde 2002 e uma queda no último trimestre de 2012. A economia projeta indicadores que deixam os investidores apreensivos, com alta da inflação e baixo crescimento do PIB. Por outro lado, o crescimento de beneficiários, principalmente das classes C e D, vêm gerando uma demanda reprimida por serviços de saúde, muitas regiões com altas taxas de ocupação (sem condições de atender a procura), muitas instituições investindo e outras planejando algum tipo de expansão, como ampliações ou aquisição de equipamentos.
Mas fica uma grande dúvida, devemos aproveitar o momento? Pois o cenário citado acima, segundo dados da própria ANS , houve uma retração de quase 1 milhão de vidas no último trimestre de 2012, e a taxa de juros que vinha caindo volta a crescer. Com relação ao câmbio, temos o dólar e euro em ascensão causando muita preocupação principalmente em investimentos em equipamentos importados, então que rumo seguir? 1) Investir e aproveitar o crescimento, mas correr o risco de redução na demanda e amargar uma ocupação baixa e dificuldades para honrar as dividas assumidas? ou 2) Não investir, não aproveitar o momento, perder a chance de crescer, se modernizar , expandir, mas em compensação ficar sem dívidas e com um bom resultado gerado pelo alto volume de atendimento atual, mas correr o risco de ver o concorrente se modernizando, crescendo e também ver surgir novos concorrentes com instalações novas e tecnologia de última geração?
É impossível responder com precisão as questões acima, ninguém tem o poder de prever o futuro, o risco é inerente a qualquer tipo de investimento, e a escolha só pode ser efetivada pelo investidor/empreendedor. Existem estudos (projetos de viabilidade econômica financeira) que podem minimizar os riscos, todavia não vão contemplar o comportamento da economia. Baseiam-se em estatísticas e previsões que ajudam a calcular o retorno do investimento dentro de determinadas condições pré-estabelecidas. Se tudo acontecer conforme o que planejado no estudo, ótimo, caso contrário pode divergir para condições melhores ou nem sempre tão satisfatórias.
Além das incertezas em relação à economia e ao crescimento dos beneficiários, um outro fator que considero relevante refere-se a adequação das operadoras de planos de saúde diante dos diversos fatores que veem impactando diretamente os resultados destas instituições: 1) de fato, houve um crescimento expressivo de beneficiários, mas a grande maioria das classes C e D gera uma redução no valor do “tíquete médio”; 2) As constantes exigências e ajustes efetuados pela ANS, como a aplicação do novo rol de procedimentos, a avaliação e análise sobre o novo modelo de remuneração, que começa um período de ensaio com diversas operadoras e prestadores de serviços, para (dependendo do resultado) ser implantado em 2014; 3) A evolução constante dos custos em saúde, sempre superior aos índices inflacionários, dentre outros fatores.
E os ajustes que gradativamente estão ocorrendo com as operadoras de planos de saúde, inevitavelmente recairão através de negociações mais apertadas e mais difíceis junto aos prestadores de serviços, que necessitarão de informações acuradas e confiáveis para negociar e tomar decisões mais assertivas e não prejudicar os resultados da instituição.
Portanto, acredito que vivemos um momento delicado em que a necessidade de gerenciamento e controle econômico financeiro das instituições prestadoras de serviços em saúde são fundamentais, porque as margens tendem a ser são cada vez menores. Precisamos de fato conhecer a rentabilidade de cada tipo de serviço, quanto cada operadora proporciona de retorno, qual o resultado efetivo de cada serviço realizado, e ao mesmo tempo, gerenciar, controlar e conhecer muito bem o caixa da empresa.
Para obter informações confiáveis com precisão e dinamismo, os prestadores de serviços precisarão de ferramentas que propiciem respostas como: O resultado por operadora, por unidade de negocio, e até por especialidade. Neste sentido, a informação de custos pode ajudar muito nas respostas das questões acima.
Em um conceito literal, encontramos nos livros que custos significam a soma de todos os insumos (mão de obra, materiais, energia elétrica, água, depreciação, etc) utilizados na produção dos serviços. Mas não quero entrar em detalhe no significado e no desenvolvimento de um sistema de gestão de custos. O objetivo é elencar as vantagens que uma organização de saúde alcança com a elaboração desta informação.
Em primeiro lugar, vamos conhecer o custo de cada um dos departamentos (Unidade de internação, centro cirúrgico, faturamento, limpeza, Lavanderia, etc), esta informação proporciona a avaliação das variações dos custos e demonstra o impacto de cada setor no custo final do atendimento do paciente.
Em um segundo momento alcançamos o custo dos serviços, ou seja, qual o custo de uma diária, consulta, exame, cirurgia, ou aprimorando a informação, o custo do minuto da consulta, da hora de cirurgia, proporcionando a chegarmos ao custo de uma cirurgia e até por profissional médico, da mesma forma o custo de um exame.
Após a obtenção dos itens acima, começamos a utilizar a informação para gerar subsídios nos processos de negociação e tomada de decisão, por exemplo: se alcançamos o custo de cada cirurgia (procedimento), consulta, exame, acumulamos todo o serviços prestado para um determinado convênio e, dessa forma, é possível apurar o resultado por operadora, e até estratificando a informação e conhecendo quais os tipos de serviços são mais ou menos interessantes para esta determinada operadora, assim, teremos ferramentas nas mãos extremamente importantes em processos de negociação.
Como comentei no início do artigo, precisamos tomar decisões, corremos riscos, mas com um pouco de conhecimento (informações e dados) e cautela para não errar nas decisões, pois como a margem de lucro é apertada e qualquer decisão sem nenhum estudo prévio, sem nenhuma simulação com os dados de custos e resultados, podem facilmente reverter o pequeno lucro em prejuízo.
Subtraindo-se os custos da receita alcançamos o resultado (DRE _ Demonstração de Resultados do Exercício) que apresentam informações que elucidam se a instituição é geradora de riqueza, se proporciona algum retorno para o sócio (investidor / empreendedor). No momento em que temos a DRE por operadora e ainda segregado por tipo de serviço, monitora- se a instituição para qualquer negociação junto a qualquer plano de saúde.
A informação de custos deve ser muito bem elaborada. Somente com dados confiáveis, podemos tomar decisões que podem mudar o resultado da empresa. Além disso, precisamos de informações rápidas, não dá para tomar decisões ou analisar os custos de janeiro no mês de abril, sendo que neste mês temos de avaliar os dados de março.
Para fechar este assunto, enfatizo que considero muito delicado negociar a tabela de preços de um produto que não sabemos quanto custa, como desenvolver uma tabela sem saber o custo? Como aceitar a proposta de uma operadora para um determinado serviço (Pacote) se não conhecemos o gasto efetivo que teremos ao realizar este procedimento?
São perguntas que vem sendo respondidas nos dias de hoje, pois caso não consigamos responder, poderemos entrar em dificuldades que depois ficarão cada vez mais complexas para se agir e manter a instituição saudável.
Portanto, acredito sim, que o momento é de investimento, com riscos, que como disse são inerentes ao negócio, mas com ferramentas de apoio, (projetos de viabilidade econômico financeira e gestão de custos), que proporcionem informações valiosas nos processos decisórios. Assim, fica menos difícil competir e concorrer neste mercado que passa por um momento peculiar.