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A pandemia da Covid-19 aumentou a demanda por uma série de insumos médicos necessários para o enfrentamento da crise sanitária, como máscaras, luvas, seringas, respiradores e medicamentos para intubação. Além do risco de desabastecimento e de atraso na reposição dos estoques, a procura elevada resultou em significativa alta nos preços de itens que, de forma geral, fazem parte da rotina das instituições de saúde.
Esse efeito se soma a outro aspecto negativo provocado pela pandemia: a queda de receita em várias frentes de negócios do setor, decorrente das medidas de isolamento. Administrar instituições de saúde se tornou mais desafiador nesse cenário, exigindo controle minucioso por parte dos gestores.
Com o avanço da vacinação, somado à consequente queda no número de casos e de internações, a perspectiva atual é de acomodação gradativa dos preços e retomada das receitas prejudicadas pelo isolamento. Ainda assim, esse processo não será imediato; por isso, é preciso aprimorar estratégias financeiras e ampliar o controle orçamentário para ganhar eficiência e recuperar perdas em tempos de crise.
Impacto da pandemia sobre os preços
“A forte demanda mundial provocada pela Covid-19 no uso de insumos, principalmente em relação a medicamentos e itens básicos de proteção (luvas, máscaras etc.) e, também, anestésicos, relaxantes musculares e itens necessários para intubação, provocou altas de preços no mercado superiores a 1.000%”, contextualiza o coordenador do MBA em Administração Hospitalar da Faculdade Unimed e Diretor da XHL Consultoria, Eduardo Regonha.
Essa variação chegou a percentuais ainda maiores dependendo do período e do tipo de insumo. Regonha exemplifica citando o caso de alguns anestésicos que tiveram a utilização ampliada no auge da pandemia (primeiros quatro meses de 2021), atingindo alta de preços superior a 2.500% na comparação com o mesmo período de 2019. A junção entre expansão da demanda por itens que foram muito disputados no mercado e majoração dos preços fez com que alguns deles registrassem acréscimo médio superior a 9.000%, calcula o coordenador.
“O ponto mais crítico nesta constatação é que, até o momento, os preços não estão retrocedendo”, avalia. “Segundo o indicador criado pela FIPE em parceria com a heath tech Bionexo, o índice de reajuste do primeiro semestre de 2021 atingiu um crescimento de 14,69%, muito superior à inflação do período. Alguns medicamentos dos grupos do sistema nervoso e sistema musculoesquelético, por exemplo, tiveram reajustes superiores a 25%.”
Isso quer dizer que clínicas, consultórios e demais instituições de saúde continuam sendo muito impactadas pela alta no custo dos insumos. Entretanto, Regonha destaca que a expectativa é de que, “em breve, os preços, pelo menos, se estabilizem”.
Queda na receita acentua o problema
O fluxo de caixa das instituições de saúde não foi comprometido apenas em relação aos gastos. Na outra ponta, as receitas também foram prejudicadas durante a pandemia. Regonha constata que houve queda drástica dos atendimentos entre março e maio de 2020. A partir de julho e ao longo do segundo semestre de 2020, houve um princípio de recuperação, processo que arrefeceu no início de 2021, no auge da pandemia.
“Muitos hospitais ficaram lotados no primeiro semestre de 2021, porém com quase 100% do atendimento direcionado à Covid, com muitas adaptações e criação de UTIs para atender essa demanda. Agora, no início do segundo semestre, começamos a enxergar melhoras consideráveis nos níveis de produção de atendimentos regulares. Alguns hospitais já chegaram a atingir 80% de ocupação.”
Regonha acrescenta que há mais indicativos relacionados à diminuição de receitas na área da saúde. “Outro indicador que demonstra de forma clara e objetiva a queda nas produções e faturamento refere-se à realização de consultas, com reduções acima de 70%.”
Com isso, o quadro de pessoal nas clínicas retraiu entre 20% e 50%, nos últimos 15 meses, argumenta. E houve redução, ainda, na realização de exames de diagnósticos. O mercado como um todo foi afetado pela situação. “Segundo pesquisa realizada pela XHL Consultoria, que é especializada no segmento de saúde, junto a seus clientes, a redução média do faturamento por hospital superou 40% em alguns meses, o que obviamente gera um impacto relevante no fluxo de caixa da empresa”, informa.
Hora de ajustar as finanças
A tomada de decisão em relação à gestão financeira é ponto central para evitar e minimizar perdas. Segundo Regonha, as instituições que foram ágeis nesse processo conseguiram reduzir prejuízos e equilibrar o caixa. “Agora, estamos em um novo patamar. Acredito que, neste momento, estamos entrando na fase de recuperação, com algumas instituições começando a recontratar profissionais e outras até fazendo investimentos.”
No processo de recuperação, o controle da gestão continua sendo instrumento indispensável para obter melhores resultados. As informações monitoradas devem ser confiáveis e estar à disposição dos gestores para que possam se antecipar à conjuntura. “A recomendação é exatamente desenvolver projeções e acompanhar os movimentos do mercado, como está a recuperação da economia e ir se adequando às tendências.”
Essas ações favorecem todo o processo decisório, inclusive em relação aos gastos com insumos médicos. Regonha orienta que o acompanhamento seja feito por meio de “relatórios que apresentem de forma clara e objetiva a situação da empresa – como um plano orçamentário diante de cada possível cenário – ou por um sistema de apuração de custos que propicie informações sobre quais são os setores e produtos mais rentáveis, quais clientes (operadoras) proporcionam os melhores retornos.”
Dessa forma, é possível tomar decisões rápidas e assertivas. Outro aspecto essencial é aprimorar a gestão de riscos do negócio, com o objetivo de proteger a empresa contra imprevistos que possam resultar em perdas.
Fonte: https://conexao.segurosunimed.com.br/
Foto: Freepik