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Nesta reportagem da Revista DOC, especialistas, médicos e representantes de empresas do segmento esclarecem os principais tópicos sobre o assunto.
Paula Netto
Atuar dentro do próprio consultório ou clínica faz parte dos planos de muitos médicos, mesmo aqueles que já possuem vínculo empregatício com outra empresa. Ao abrir um negócio, é natural o desejo de ser independente no trabalho e, com isso, cobrar pelos serviços prestados de maneira livre. Para tanto, o profissional tem que definir quais formas de pagamento disponibilizará para seus pacientes. Chegar a uma conclusão sobre qual é a melhor opção para o negócio pode ser mais difícil do que pensa, já que não existe uma fórmula ideal e a adoção de cada modalidade leva em consideração diversos fatores.
De acordo com a consultora administrativa e financeira de clínicas médicas e sócia da XHL Consultoria Empresarial, Sandra Chiarantano, a cobrança de dinheiro ou cheque ainda é uma prática usual entre os médicos. Embora o uso de cartões esteja cada vez mais frequente, muitos estabelecimentos têm evitado esse tipo de recebimento por causa das tarifas envolvidas. “Dentro do ambiente particular, ainda observo que o pagamento costuma ser feito mais em cheque ou dinheiro, especialmente para serviços que envolvem cirurgias e implantes.
Existe uma questão cultural envolvida também. Por hábito, os médicos gostam de guardar o dinheiro ou cheque recebido em um cofre ou até mesmo do próprio bolso, principalmente quando se trata de um consultório pequeno”, afirma.
A especialista conta que, se o médico realiza atendimento particular, mas não é dono do local em que trabalha, o procedimento normal é que ele receba pelo serviço no final do dia. “Isso acontece, claro, quando o estabelecimento lida com cheque e dinheiro. mas se é disponibilizado o pagamento via cartão, por exemplo, provavelmente o médico só irá receber no final da semana aquilo que poderia obter no próprio dia “, argumenta.
Além de passar pelo aspecto cultural e pela praticidade, as despesas com o aluguel de máquinas de cartão de crédito e débito também são fatores que costumam pesar, de acordo com a consultora.
“Os tributos envolvidos dependem muito da negociação que o estabelecimento possui com o banco, ou seja, o quanto ele movimenta financeiramente na entidade financeira com a qual trabalha. Quando há uma movimentação razoável, é possível diminuir essa tarifa que é cobrada por movimentação. Existem algumas entidades financeiras que cobram um percentual fixo de 2% a 3%, podendo chegar até 5%. Vale ressaltar que esta taxa precisa, de fato, existir, pois o banco realiza a cobrança de uma conta corrente e passa para outra conta como uma transferência normal, mas também é importante que haja uma negociação para que essa tarifa não comprometa uma fatia muito grande do recebimento do médico”, alerta.
Apesar dos custos com a aceitação de cartões no consultório, Sandra acredita que a modalidade vale a pena para os dois lados envolvidos. “A escolha pela cobrança via cartão é mais confortável para o paciente e é a certeza do recebimento por parte do profissional. O pagamento por meio de dinheiro ou cheque é complicado, inclusive por questões de segurança, já que as pessoas não se sentem tranquilas em caminhar na rua com esse dinheiro. Nesse contexto, as despesas oriundas do uso de pagamento via cartão valem a pena pela segurança do paciente e do receptor”, opina.
Por outro lado, na visão da especialista, as diversas formas de cobrança no atendimento particular contribuem infelizmente para o que ela chama de “separação de atendimento”. Existem médicos que conseguem fazer uma seleção dos pacientes por meio do valor de atendimento. Então é inegável que existe um serviço de qualidade superior para alguns, enquanto que para outros não. Realmente enxergo isso como um empecilho, pois impede que o paciente tenha tratamento adequado de patologia em função de colocações de pagamento”, analisa.
MENOS BUROCRACIA E MAIS PRATICIDADE
Há 12 anos, o pediatra Jorge Luiz de Faria optou por disponibilizar apenas o pagamento em dinheiro e cheque no seu consultório. Para o médico, a burocracia envolvendo a parceria com convênios sempre foi um fator limitante. “Além disso, o valor pago era muito abaixo do justo por uma consulta médica. Por essa razão, achei melhor parar de atender por convênio e trabalhar somente com o recebimento em dinheiro e cheque”, relata.
De acordo com Faria, o ponto positivo em lidar com as opções escolhidas é a praticidade, diferente do que ocorria com os convênios. O médico afirma que, em todos esses anos de experiência em consultório, jamais passou por dificuldades relacionadas a formas de cobrança. “Não vejo paciente algum com problemas para pagar. Uma ou outra pessoa pergunta se são disponibilizados outros meios, mas ao dizer que não, eles aceitam pagar em dinheiro ou cheque sem qualquer obstáculo”, afirma. E se os pacientes estão satisfeitos, o mesmo acontece com o pediatra. “É a modalidade de pagamento mais prática e com a qual, para mim, vale mais a pena trabalhar. Sinto-me satisfeito dessa forma e, com certeza, indico para os demais colegas de profissão”, resume.
Texto Extraído da Revista DOC Gestão em Custos – Número 5
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