fev
Já comentei algumas vezes sobre o quanto considero importante a elaboração do fluxo de caixa para os controles financeiros de uma instituição, seja ela do tamanho que for, pode ser um hospital ou um consultório. Recomendo a elaboração do fluxo de caixa realizado, ou seja, um controle que demonstra tudo que entrou de dinheiro na instituição e tudo que saiu, gerando um saldo final, com todos os itens classificados por tipo de contas, com o objetivo de termos uma visão clara e um efetivo controle de como andam as finanças. Todavia, mais importante que fluxo do passado é a previsão do fluxo de caixa, ou seja, o que ainda vai acontecer, a previsão das entradas e saídas de caixa para os próximos meses, e nada mais oportuno de que começar o ano, tendo noção do que vai acontecer financeiramente na empresa ao longo dos próximos meses, e desta forma amenizar os riscos e as surpresas.
Um fato recorrente em muitas instituições todo final de ano, acontece quando chega a hora de pagar o 13º salário, ou os sócios precisam colocar dinheiro na clinica ou muitas vezes a instituição acaba recorrendo a empréstimos para honrar os compromissos com os funcionários. A dica: a partir de agora já começar a guardar 1/12 (um doze avos) ao mês do montante de salários, quando chegar dezembro, o dinheiro já vai estar lá guardadinho exatamente para este fim. Muitos dizem: – Mas Eduardo, não sobra para guardar. Primeiro que não estou falando em sobra, estou enfatizando que isto deve ser encarado como o pagamento de uma divida, e efetivamente não uma sobra, (o mais interessante neste tema, é que quando falta o capital em dezembro, se faz o empréstimo, e depois se paga o empréstimo com juros, mas pergunto: Estava sobrando para pagar o empréstimo?).
Recomendo também sempre manter uma reserva para eventos não planejados, como: demissões, quebra de equipamentos, descredenciamento de convênios, inadimplência, dentre muitos outros que podem ocorrer, e por incrível que possa parecer as instituições que tem resultados menores são as que mais necessitam fazer estas reservas, exatamente porque elas trabalham no limite, quase não tem sobra ou se tem são pequenas, e quando acontece alguma coisa, não tem de onde tirar dinheiro, e inevitavelmente recorrem a bancos pagando juros elevados e piorando a situação. É logico que não é fácil adotar as propostas que estou sugerindo para estas instituições que trabalham no limite, ou as vezes até com prejuízo, afinal precisa-se reduzir a própria remuneração (se for o caso) que já é baixa…, Mas para compensar proponho também adotar medidas na tentativa de reduzir custo e/ou aumentar receitas, pensar com otimismo em alguma forma de incrementar a receita da clínica. Infelizmente eu não tenho um método infalível para propor, mas quem sabe cobrir alguns espaços ociosos na clinica trazendo novos profissionais da mesma especialidade ou de outra se for o caso, quem sabe aquele convênio que foi descredenciado não pode abrir espaço para outro melhor, implantar novos serviços, correlatos com a especialidade, etc. E em termos de custos, avaliar os contratos com terceiros, checar se o quadro de pessoal esta adequado, se existem profissionais fazendo horas extras, analisar o consumo de materiais item a item, analisar o comportamento dos custos com energia elétrica, agua, telefone (instalar um tarifador, para se ter um maior controle das ligações), verificar com o contador a melhor forma de tributação, se lucro real ou presumido, enfim esmiuçar detalhadamente todos os itens de custos e despesas.
As recomendações e observações elencadas acima devem ser demonstradas na previsão do fluxo de caixa. Lógico que é bem mais fácil prever os custos (exemplo a previsão para 13º.salário) do que as supostas receitas, mas as vezes precisamos ser conservadores com os custos, ou seja, encarar que realmente eles irão acontecer, e ser pessimista com as receitas, infelizmente considerando que quase nada de novo vai acontecer, então a instituição e seus gestores terão que avaliar como cobrir todos os custos sem novas receitas, diminuir os honorários, as retiradas dos sócios, mas evitar na previsão do fluxo de caixa incluir empréstimos, a não ser que haja uma clara previsão de receita para pagamento deste empréstimo.
Também não é pelo fato de sermos pessimistas com as receitas e redução nos custos que não devemos ir com muita garra atrás das propostas, muito pelo contrário, afinal se a clínica conseguir aumentar receita e reduzir custo, e as despesas já estavam com previsão de cobertura sem estas medidas, significa que a situação da clínica melhorou muito, pois é exatamente este o foco principal do trabalho.
Volto a dizer que não é uma tarefa simples, colocar estas sugestões no papel é fácil, mas é necessário muita disciplina, muita perseverança e acima de tudo querer tornar a instituição forte e saudável rumo a perenidade. Em outros artigos já escrevi que devemos escolher se queremos uma empresa ou um local de trabalho, Se temos como foco uma instituição sustentável para durar gerações, alguns sacrifícios são necessários para nos adequar a novas realidades, as clinicas médicas precisam se desdobrar cada vez mais para sobreviver e se manter no mercado de saúde nacional, cada vez mais competitivo, e infelizmente com remunerações cada vez menores, hoje trabalha-se muito mais e ganha-se muito menos, e se quisermos sobreviver neste mercado precisamos nos ajustar a ele, mas também enfatizo que este ajuste não passa só por reduzir custos, diminuir honorários, ajustar também significa ter criatividade para criar serviços diferenciados, ter um pouco de ousadia para quem sabe aumentar a clinica e reduzir custos fixos trazendo novas especialidades, fazer parcerias estratégicas, enfim inovar.